quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Relatividade Cultural

"O homem recebe do meio, em primeiro lugar, a definição do bom e do mau, do confortável e do desconfortável. Deste modo os chineses preferem os ovos podres e os oceanenses o peixe em decomposição. Para dormir, os pigmeus procuram a incómoda forquilha de madeira e os japoneses deitam a cabeça em duro cepo. O homem recebe do seu meio cultural um modo de ver e de pensar. No Japão considera-se delicado julgar os homens mais velhos do que parecem e, mesmo durante os testes e de boa-fé, os indivíduos continuam a cometer erros por excesso (. . .)
O homem retira também do meio as atitudes afectivas típicas. Entre os maoris, onde se chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida. Nos esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu, tal como na Samoa; (…) a morte não parece cruel, os velhos aceitam-na como um benefício e todos se alegram por eles. Nas ilhas Alor, a mentira lúdica considera-se normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha Normanby, onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar. (…) Entre os esquimós o casamento faz-se por compra. Nos urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outro homem. No Ceilão reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. A proibição do incesto encontra-se em todas as sociedades, mas não há duas que o definam da mesma maneira e lhe fixem de modo idêntico as determinações exclusivas. O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres e nas ilhas Andaman, em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, em sinal de amizade. A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica feminina, como nos tchambulis, por exemplo; em que na família é a mulher quem domina e assume e direcção. (…)

Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir, decerto – como um protótipo."

Lucien Malson, As crianças selvagens



No texto temos exemplos daquilo que é feito em diferentes culturas. Por isso, podemos dizer que a cultura apresenta um duplo aspecto: universalidade e diversidade porque todos os Homens têm cultura mas há sempre culturas diferentes. Com isto apercebemo-nos que nunca podemos dizer que os Homens que têm uma raça diferente da nossa não são cultos. O que os diferencia de nós é a cultura. Podem agir de maneira diferente, comer coisas que nós nunca comeríamos, ter tradições diferentes, mas tudo depende do meio em que foram criados e daquilo que os seus antepassados e familiares ensinaram.
Ou seja, todos os povos são cultos mas cada povo tem a sua própria cultura e é isso que nos permite que conheçamos coisas novas e que haja diversaidade no Mundo.


Joana Almeida

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