segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A caixa de Skinner


Numa pesquisa da Universidade da Califórnia (EUA), ratos foram treinados para pressionar duas alavancas: uma para receber doces e outra para receber uma pequena dose de cocaína. Então, foram libertados para escolher à vontade entre ambas as ofertas. Segundo o líder do estudo, Kerry Kerstetter – que apresentou o trabalho na Neuroscience 2010 (um congresso anual do pessoal da neurociência)–, as fêmeas pressionaram a alavanca da cocaína “significativamente” mais vezes do que os machos, que escolheram “principalmente” os doces. Quando os pesquisadores dobraram a dose de cocaína disponível, entretanto, ambos os sexos passaram a ir para cima da droga. “Mas as fêmeas ainda preferiram a cocaína mais do que os machos”, contou Kerstetter.
Será que isto indica que a mulher tem uma tendência natural maior ao vício? Parece que sim. “Estudos sobre a dependência de cocaína nos humanos mostram que as mulheres se viciam mais rápido do que os homens, e também que aguentam períodos menores sem a droga“, aponta o pesquisador. Os ratinhos não mentem: “tudo indica que o sexo feminino é mais propenso do que o masculino a sacrificar até a comida por pequenas doses de cocaína“.

Artigo da Revista Super Interessante

Eu diria que esta experiência feita sobre os ratos é bastante conclusiva sobre o comportamento humano, e o mais interessante é que neste caso podemos fazer a distinção entre homens e mulheres. Podemos então concluir que as mulheres são mais facilmente sucumbidas ao vício. Quando se aumenta a dosagem ambos abdicam de algumas necessidades, como referido no exemplo anteriormente, apenas para satisfação de um vício.

António Ferreira

domingo, 7 de novembro de 2010

Comportamento animal e humano

Quem quer praticar a psicologia humana como uma ciência não pode perder de vista que o homem é um ser vivo e que, como todos os seres vivos, saiu de outros seres mais simples, segundo um processo de evolução natural. Se se quiser explicar, de maneira simples, as leis particulares e imensamente complexas que regulam o comportamento e a vida mental do homem, e reduzi-las às leis naturais mais próximas e mais imediatamente gerais, levanta-se o problema de saber quais são essas leis mais fundamentais. Este problema só pode ter uma resposta; estas leis são as que dominam em geral o comportamento dos seres vivos.

Konrad Lorenz, Ensaios sobre o Comportamento Animal e Humano

A formação dos hábitos depende não só da organização objectiva dos exercícios mas também do estado fisiológico e psicológico dos sujeitos. Este problema é hoje objecto de muitas investigações complexas e ainda pouco claras. Sabe-se que a capacidade para aprender sob todas as suas formas - aquisição de comportamentos ou conhecimentos - diminui com a idade. Esta noção do senso comum é confirmada pela observação experimental. A aptidão para aprender o labirinto aumenta no rato até à idade de 75 dias e depois vai decrescendo. Os animais muito velhos não adquirem já reflexos condicionados. Os jovens estão mais aptos para adquirir hábitos por ensaios e erros, não só por causa da sua mobilidade que multiplica a oportunidade de acidentes felizes, mas por causa do seu poder de modificar os seus hábitos e de formar novos à custa dos antigos.
 Paul Guillaume, A Formação dos Hábitos

Wikipedia, John Watson

Wikipedia, B. F. Skinner

sábado, 6 de novembro de 2010

O Princípio da Realidade


Numa parábola em Parerga und Paralipomena, Arthur Schopenhauer conta-nos o dilema que um grupo de porcos-espinhos enfrenta, numa qualquer manhã de um muito frio Inverno. Descreve-nos uma multidão de porcos-espinhos que, amontoando-se muito juntos de modo a poderem a beneficiar do calor recíproco, procuravam dessa forma evitar morrer de frio. Mas logo começaram a sentir os espinhos uns dos outros, o que os levou a separarem-se de novo... E assim por diante seguiram os porcos-espinhos, procurando incansavelmente uma posição que lhes permitisse beneficiar do calor do outro, sem sofrer a dor da picada.



No que respeita às tendências sexuais, é evidente que, do começo ao fim do seu desenvolvimento, são um meio de aquisição de prazer, e desempenham essa função sem fraquejar. Mas sob a pressão da grande educadora que é a necessidade, as tendências do Eu não tardam a substituir o princípio do prazer por uma modificação. A tarefa de evitar os desgostos impõe-se-lhe com a mesma urgência que a de conseguir prazer; o Eu aprende que é indispensável renunciar à satisfação imediata, diferir a aquisição do prazer, suportar certas penas e renunciar em geral a certas fontes de prazer. O Eu assim educado tornou-se razoável, já não se deixa dominar pelo principio do prazer, mas conforma-se com o princípio da realidade que, no fundo, tem igualmente como finalidade o prazer, mas um prazer que, se é diferido e atenuado, tem a vantagem de oferecer a certeza que proporcionam o contacto com a realidade e a conformidade às suas exigências.
Sigmund Freud, Introdução à Psicanálise

Library of Congress, Sigmund Freud
YouTube, Kids and the marshmallow test

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Entre dois mundos


Não estamos no tempo dos associacionistas e os psicólogos modernos tentam interrogar e interpretar. Querem estar, tal como o físico, em face do seu objecto. É preciso, porém, limitar este conceito de experiência quando se fala da psicologia, porque pode haver uma multidão de experiências diversas. Há que decidir, por exemplo, se existe ou não uma experiência das essências ou dos valores ou ainda uma experiência religiosa. O psicólogo usa apenas dois tipos de experiências bem definidos: a percepção espacio-temporal dos corpos organizados, e este conhecimento  intuitivo de nós mesmos que se chama experiência reflexiva. Os debates de método entre os psicólogos dizem respeito a este problema: estes dois tipos de informação são complementares? devem subordinar-se um ao outro? será preciso afastar resolutamente um deles? Mas estão de acordo num ponto: a investigação deve partir de factos.

Jean Paul Sartre, Esboço de Uma Teoria das Emoções

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quem sou eu?


Quem sou eu? Pergunta o ser humano. O Estado não lhe pode responder. Não conhece senão conceitos abstractos: emprego, reformas... O mesmo acontece com a sociedade em geral: o que existe para ela é a ajuda aos refugiados, os socorros de urgência... Sempre abstracções. No universo do Estado e da sociedade, este ser humano não é uma realidade viva. É um número, uma ficha, num dossier que tem uma infinidade de outros, cada uma com o seu número. No entanto este ser humano não é um número; é um ser vivo, um indivíduo e, como tal, fala-nos de uma casa, uma casa bem determinada que foi sua e dos seus, dos seus animais, cada um com o seu nome. É a tudo isso que o ser humano se refere quando põe a pergunta, sem resposta: Quem sou eu? Que sentido tem tudo isto?
Gabriel Marcel, O Homem Problemático