segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Máscara social






" (... ) O termo «pessoa» (…) tem a sua origem num termo teatral, visto que primitivamente a palavra persona designava a máscara com que o actor cobria o rosto a fim de melhor desempenhar o seu papel.
Quando qualquer de nós se interroga sobre aquilo que os outros pensam a nosso respeito, põe-se na posição do actor em face dos espectadores; e quando apreciamos a acção de outrem, pomo-nos na posição do espectador que olha para o actor a representar o seu papel.
No teatro, com efeito, cada actor tem o seu estatuto, uma posição social que lhe é atribuída (…) no seio desta colectividade fictícia que constitui a peça. Deve integrar-se na sua personagem, captando-lhe a psicologia e manifestá-la no comportamento e no conjunto da sua acção. Manifesta também a sua própria personalidade, não numa independência total, mas numa submissão original às condições sociais que constituem o conjunto da peça (…) Deve esforçar-se por tomar e manter o contacto com o público, ou seja, fazê-lo compreender simultaneamente a sua própria personalidade e a sua submissão social ao conjunto da peça»

                                                                                          P. Virton, Les dynamismes sociaux


Na minha opinião, o texto dá-nos a conhecer uma certa analogia que o autor estabelece entre a vida social e o teatro.
Assim, ao representar, o actor encarna um papel que lhe é previamente destinado, não deixando, todavia, de manifestar na representação o cunho próprio da sua personalidade.
O mesmo se passa na vida em comunidade.
Os diferentes papéis que o indivíduo representa são resultantes do binómio indivíduo-sociedade. Não há dúvida alguma que todos nós podemos escolher uma profissão do nosso agrado, tomar atitudes que achamos convenientes, assumir condutas de acordo com as nossas qualidades e maneira própria de ser. Mas coloco a questão: Em que medida é que tais opções são fruto apenas da nossa vontade pessoal?
É de extrema importância saber o elevado peso que a sociedade exerce sobre nós, fazendo-nos interiorizar modelos que, por si só, vão moldando a nossa personalidade. Além disso, acho que muitas vezes somos coagidos a seguir certas linhas de conduta ou a escolher determinada carreira profissional, por motivos meramente sociais, alheios às nossas inclinações.
Dou o exemplo, de pessoas que se tornam agricultores pelo facto da sua região carecer de estabelecimentos de ensino básico ou médio; outras cuja aspiração seria medicina ou advocacia, tiveram de renunciar por razões de ordem económica; outras ainda exercem determinadas profissões porque os familiares as levaram a isso.
Considero assim, que se o indivíduo escolhe determinados papéis, estes, em grande parte, são já organizados e de certo modo destinados pela sociedade. É este facto que explica o motivo por que muitas pessoas não desempenham convenientemente as suas tarefas profissionais, sentindo-se frustradas e incapazes de uma integração frutuosa no grupo de trabalho. Trata-se, efectivamente, de um desajuste entre o papel que se adaptaria com a sua personalidade, e o que a sociedade, a todo custo, lhes impõe.


                                                                                                                    Tatiana Machado

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