terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Crianças Selvagens

No que diz respeito às crianças selvagens, estas são crianças que, sendo abandonadas numa idade muito precoce vão ser “criadas” por animais selvagens. Na realidade, o que vai acontecer é que não tendo qualquer tipo de contacto com uma cultura ou com outros indivíduos da espécie humana, estas crianças vão imitar os animais com quem passam grande parte da sua vida (a não ser que mais tarde sejam encontradas por outros Seres Humanos que as procurem ajudar, caso contrário, nunca irão mudar os seus hábitos, que, simultaneamente, são comportamentos típicos de animais). Por outro lado, é ainda importante destacar que estas mesmas crianças se caracterizam pelas suas cicatrizes e marcas (quer físicas quer mentais) que mostram facilmente que o Ser Humano depende dos outros e do contacto físico e pessoal com os outros. 
Assim, e como poderemos perceber estas crianças não possuem quaisquer comportamentos humanos. Na medida em que, não falam ( e não sendo sensíveis à fala humana, passa a existir uma grande dificuldade em comunicar com elas, que na maior parte dos casos emitem sons. Tendo, portanto, uma linguagem verbal muito reduzida). Por outro lado, estas não expressam quaisquer tipo de emoções complexas (como rir ou chorar) e, consequentemente, não vão perceber o significado dessas mesmas expressões. Para além disso, utilizavam os quatro membros para se deslocarem, e, não possuindo competências socias relacionadas com a convivência com os outros, estas não interagem com as pessoas que procuram interagir com elas.

Desta forma, estamos a falar de crianças que ao contrário dos restantes Seres Humanos, são exclusivamente naturais uma vez que o papel cultural e social (nestas) é nulo, o que vai facillitar a explicação de todos os seus comportamentos.


Caso português - Criança Selvagem:

Maria Isabel Quaresma dos Santos é o único caso português no campo das Crianças Selvagens. Nasceu a 6 de Julho de 1970 no distrito de Coimbra, na vila de Tábua. A pequena Isabel habitava num galinheiro onde, supostamente, a mãe a terá colocado apenas algum tempo após o seu nascimento. Foi aí que viveu durante oito anos da sua infância, tendo como única companhia as galinhas. Assim, Maria Isabel, alimentava-se de milho e couves cortadas.

Quando a pequena Isabel foi encontrada, esta possuía algumas características físicas muito específicas. Entre elas, é importante destacar factos como:

    * O subdesenvolvimento ósseo;

    * A grande debilidade;

    * A cabeça demasiado pequena para a idade;

    * A face com semelhanças com os galináceos (perfil, posição labial, dentição formada como se fosse um bico);

    * A posição dos braços muito idêntica às asas das galinhas;

    * Os calos nas palmas das mão;

    * Uma catarata no olho direito, certamente originada por uma picada de galinha.

Já a nível comportamental, Isabel demonstrava características semelhantes às das suas companheiras, como por exemplo:

    * Atitudes extremamente agressivas, com tendência para destruir tudo o que estivesse ao seu alcance;

    * O seu comportamento mais usual era mexer os braços como se fossem asas de galinha e guinchar;

    * Comia os seus próprios cabelos;

    * Ingeria as próprias fezes.

 Isabel acabou por ser internada no Colégio Ocupacional Luís Rodrigues, em Lisboa, que entretanto foi fechado pela Segurança Social. Actualmente, encontra-se na Casa do Bom Samaritano e de acordo com uma notícia publicada pelo “Diário de Notícias” em 1998, Isabel já conseguia andar sem ajuda em superfícies que não fossem demasiado irregulares, tinha muito mais controlo sobre as suas emoções e tinha já desenvolvido mais competências a nível social, conseguindo estar em grupo. Conseguiu ainda, aprender a interpretar expressões faciais emocionais de outras pessoas, conseguindo ela própria produzir algumas. Comunica apenas com algumas palavras, respondendo a algumas frases simples. Nunca conseguiu recuperar totalmente do dano que lhe tinha sido feito.


Na minha opinião, todos necessitamos uns dos outros para sermos civilizados, para poderemos expressar todas as emoções que somos capazes de produzir, de forma a que, não nos tornemos em seres meramente naturais, em seres frios (devido à sua incapacidade de exprimir emoções e de as compreender) como os restantes animais, com os quais estas crianças têm mais proximidade e mais semelhanças.
De facto, é difícil reconhecer a humanidade destas crianças, apesar de elas terem sido geneticamente determinadas a nascer com algumas características que são comuns a todos os indivíduos da espécie humana (olhos, boca, nariz, orelhas, etc.). Os modos como estas crianças se relacionam com os outros e com o mundo provoca-me uma estranheza imensa. Apesar de, biologicamente, serem humanas, é difícil relacionar a nossa experiência com a delas, compreender a forma como sentem, pensam e agem (passando-se exactamente o mesmo da parte delas).
É então de destacar que a cultura nos influência desde muito cedo, isto é:

“A partir do momento do nascimento, um bebé começa por sentir o impacto da cultura: na maneira como vem ao mundo, na maneira como o cordão umbilical é cortado, na forma como é lavado e segurado e na maneira como é enfaixado ou vestido”

Marta Teixeira

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