Numa parábola em Parerga und Paralipomena, Arthur Schopenhauer conta-nos o dilema que um grupo de porcos-espinhos enfrenta, numa qualquer manhã de um muito frio Inverno. Descreve-nos uma multidão de porcos-espinhos que, amontoando-se muito juntos de modo a poderem a beneficiar do calor recíproco, procuravam dessa forma evitar morrer de frio. Mas logo começaram a sentir os espinhos uns dos outros, o que os levou a separarem-se de novo... E assim por diante seguiram os porcos-espinhos, procurando incansavelmente uma posição que lhes permitisse beneficiar do calor do outro, sem sofrer a dor da picada.
No que respeita às tendências sexuais, é evidente que, do começo ao fim do seu desenvolvimento, são um meio de aquisição de prazer, e desempenham essa função sem fraquejar. Mas sob a pressão da grande educadora que é a necessidade, as tendências do Eu não tardam a substituir o princípio do prazer por uma modificação. A tarefa de evitar os desgostos impõe-se-lhe com a mesma urgência que a de conseguir prazer; o Eu aprende que é indispensável renunciar à satisfação imediata, diferir a aquisição do prazer, suportar certas penas e renunciar em geral a certas fontes de prazer. O Eu assim educado tornou-se razoável, já não se deixa dominar pelo principio do prazer, mas conforma-se com o princípio da realidade que, no fundo, tem igualmente como finalidade o prazer, mas um prazer que, se é diferido e atenuado, tem a vantagem de oferecer a certeza que proporcionam o contacto com a realidade e a conformidade às suas exigências.
Sigmund Freud, Introdução à Psicanálise
Library of Congress, Sigmund Freud
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